Mazzili
Bom pessoal, como eu ja havia dito antes, inicio minhas postagens sobre exposições de arte agora.
Estreando então com chave de ouro escolhi o artista "Mazzilli" e a exposição "Mineirianas (da trilogia da dor- 2º ato)".
"Mineirianas" ficou aberta ao público do dia 06 ao dia 30 de maio de 2009 na Galeria de Arte Paulo Campos Guimarães, na Praça da Liberdade aqui em Belo Horizonte e foi simplesmente surpreendente pra mim! Vocês entenderão melhor até o fim dessa postagem!
A princípio, o que me chamou muito a atenção foi o vermelho vibrante presente em toda a obra, daí eu resolvi entrar pra visitar. As peças eram tão inusitadas que comecei de traz pra frente, eu nem li sobre o que era a exposição e foi caminhando de peça em peça (srsrsrsrs). Percebi que todas elas não tinham nome. Daí precipitadamente tirei uma conclusão pensando: "Esse cara é louco"! Ao final li o prefácio da exposição e senti vergonha do meu pré- conceito. Mazzilli é o cara!
Agora vejam algumas fotos da exposição, o prefácio da mesma e um pósfácio escrito por Mazzili e concluam!
Espero que gostem!
Prefácio
Arte Culinária
Comemos coisas mortas. Um pé de alface ou uma vaca têm que ser assassinados para nossa sobrevivência. E a etiqueta e o ritual que invetamos para a mesa de jantar serem ao propósito de dissimular algo insuportável para a humanidade: a agressividade que existe no ato de comer.
Mas é no preparo dos alimentos nas nossas cozinhas que ocorre o processamento da comida em algo palatável e que nos faz esquecer a origem do alimento. Afinal, civilizado e polido é o habitante da pólis, aquele que não sabe e não quer lembrar que seu hambúrguer ou seu kani-kama escondem um cadáver.
É justamente aquilo que queremos esquecer que Mazzilli vem nos lembrar: alimentar é um gesto de violência. É quando um organismo tem que ingerir outro. Nesta série Mineirianas o artista interdita, pelo bordado, antigos utensílios de nossas cozinhas. Objetos que trazem certa artezania na sau fatura ou que caíram em desuso. Mazzilli, ao bordar pérolas nestes objetos, cria outras significações, outros sentidos, quando os desloca e destitui de sua função original. Raladores, tábuas de carne, passadores de tomate e espremedores de batata são alguns dos utensílios que traduzem esta violência. Ralar, picar, triturar, socar e espremer são verbos comuns no cotidiano de quem cozinha. As dores femininas se fazem presentes de forma surrealista em longas cabeleiras e tranças nestes objetos antropomorfizados. Elas lembram sangue que escorre em fios vermelhos. Ás vezes, as pérolas se transformam em gotas como nos latões de leite, em estrelas como na 'via láctea', em pústulas, na forma de bolo de coração ou até mesmo em gotas de urina, como nos objetos de toillete.
Não nos esqueçamos ainda que na etimologia da palavra culinária o prefixo latino cu(l) se refere também à parte anatômica do corpo: é o mesmo de cueca, cueiro, recuar. Latrinas e banheiros, até o século XIX, ficavam dentro de nossas cozinhas ou contíguos a elas, seja por economia de encanamento ou para exorcizar o cheiro insuportável. Então, faz sentido o penico, a comadre e o compadre usados, em meio aos objetos de cozinha. Intimos e familiares, eles provocam estranhamento, nos causam fascínio e repulsa. Mas não é isto mesmo que Mazzilli quer nos lembrar: aquilo que queremos esquecer? Isto vale para o penico bordado, a calçola manchada, o faqueiro desfalcado, a bala perdida.
Mazzilli
Ano 455 da Deglutição do Bispo Sardinha
PS:"Havia regras, entre os endocanibais, sobre que parentes não devem ou que parentes devem, a todo custo, ser comidos"
VISSER, Margaret. O Ritual do Jantar. Rio de Janeiro: Campus, 1998, p.16.
Posfácio
Pérolas aos poucos Alguns entenderam e gostaram. Outros gostaram e não entenderam. Outros não gostaram e não entenderam. Outros ainda entenderam e não gostaram. A estes últimos, as pérolas.
Mazzilli
Faby,
ResponderExcluirfiquei feliz de te tocar de forma tão inusitada, meio de traz pra frente!
Isto vale uma exposição inteira.
Grande abraço,
Mazzilli
site www.mazzilli.art.br
e www.flickr.com/photos/mazzilli